quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Fora do Mundo Urbano


Desarrumar-te os livros.
Queria ter o poder de um sopro para que pelo menos o volume de cima ficasse desalinhado.
Nem na casa que se chegou a partilhar se admitia um milímetro de confusão. Eu tinha a mania da organização interna - alfabética, temática - tu, da harmonia externa: as lombadas tinham que compor uma sequência cromática, o caos uma aparência de serenidade.
...a casa... a casa branca, rematada a tons pastel.
No interior das janelas, bancos de pedra através dos quais se podia ficar a olhar para o mar dias inteiros.
Desesperavas com a humidade, o cheiro a fechado na roupa, as manchas salinas nas paredes, a humidade nos sapatos... Eu gostava de vestir a roupa assim, com um toque mesclado e um odor a velho, sentia-me em paz. Fora do mundo urbano, fora da cidade, deixada para trás.
As cidades, sinto-as febris como adolescentes, dançado sobre as pistas da sua própria luz, consumidas por uma inquietação difusa, cruéis, livres, impuras, amantes absolutas do novo, com toda uma sujidade inaugural. Sítios de queda e construção, leviandade e levitação, onde os acontecimentos se precipitam em cadeia e a verdade pequena de cada um existe verdadeiramente, alterando a composição química do todo a cada passo.
As cidades, sinto-as, febris. Onde falta o silêncio. Onde não consigo dormir em paz, desistir desse turbilhão urbano que tem a marca da minha respiração ofegante.

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