sábado, 31 de outubro de 2009

Identidades














Descobrir os Outros,
reconciliou-me comigo.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Oblíqua-mente

Chega um dia
em que a mão se apercebe do limite da página
e sente que a sombra das letras que escreve, saltam do papel.
Atrás dessa sombra,
passa a escrever nos corpos espalhados pelo mundo,
num braço estendido, num copo vazio, nos restos de algo.
Chega outro dia,
em que a mão sente que o corpo devora furtiva e precocemente o mais simples dos sinais.
O ar torna-se insaciável e os limites obliquamente estreitos.
A mão empreende então a sua última tentativa:
passa humildemente a escrever sobre si mesma.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Labirinto

Se alguém soubesse,
seria para dizer.
Seria pelo menos, para começar a dizer.
Seria para contradizer,
a fim de saber.
E uma vez dito,
para que os outros soubessem.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

(Im)pulso

...a Vida são os sentidos
e os sentidos as vontades.
imediatas.

sábado, 24 de outubro de 2009

Insone









Se não dormirmos,
o melhor talvez seja abandonar as palavras,
as imagens sedutoras em si próprias,
cumprir a rotina de nos alimentarmos da voz, das palavras, das coisas pequenas que chegam trazidas por não as sabermos.

Nada será apagado, ainda que o tempo obrigue à rectificação.
Continuaremos a correr,
apesar das ruas estarem vedadas, cercadas pelo zelo da insónia de alguns
que sossegam de sono quem passa.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Quietude inquietante

Nesta trepidante cultura, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.
Sob a pressão do ter que parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assume-se uma infinidade de obrigações.
Não há perdão nem amnistia para os que ficam fora do jogo:
os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço da sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.

O normal é ser-se actualizado, produtivo e bem informado. É indispensável circular, ser bem relacionado. Quem não corre com a manada, ou não existe ou é egocêntrico.
Pressionados pelo time-out do relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia,
dispara-se sem rumo - ou por trilhos determinados - como hamsters que se alimentam da sua própria agitação.

Ficar sossegado é perigoso. Pode parecer doença. Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo, ameaça quem apanha um susto de cada vez que se auto-analisa.
Estar sozinho é considerado por muitos, humilhante, sinal de que não se "arranjou" ninguém - como se os gostares estivessem à venda nessas ditas lojas de conveniência - que curiosamente nem aparecem quando mais se precisa.

Na ideia que o "vazio" provoca, querem-se ruídos. Chega-se a casa e liga-se a televisão antes de se pousar a mala ou o casaco. E não, não é para se assistir ao programa, é tão somente pelo ruído, pela distracção.

Mas que raio, de que serve a procura para fora,
se não souberem o que encontram por dentro!?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Silence

O silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe-se lá que desconcerto,
e com receio de se ver quem - ou o que se é, adia-se o confronto desse hiato sem máscaras.

Nunca esqueci quando a mão pousou no ombro e disse:
"Fica quieta por um momento, ouve a chuva a chegar".

E chegou. Intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo.
A quietude pode ser assim... como a chuva:
nela nos refazemos para voltarmos mais inteiros à normalidade, às Pessoas, às tarefas diárias, às frases, aos gostares, aos pormenores.

Então, dêem-me isso:
um pouco de silêncio, para que se faça ouvir o vento nas folhas, a chuva a lamber os telhados,
e tudo o que se fala para além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

...

Há momentos que não se escrevem
e que raramente se descrevem.

Sentem-se.

sábado, 17 de outubro de 2009

Rotações Líquidas

Não és estanque.
Moves-te por espaços em rotação.
A necessidade é a de não permaneceres muito tempo no mesmo sitio,
mas regressando aos locais.
Tal como as palavras - por vezes no mesmo sitio
mas com interpretações diferentes...
Liquidas, porque embebidas fluem melhor.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sugar adicted

Para os que me "conhecem",
saberão que sou uma verdadeira aficionada de açúcar...

Pois bem, não seria tão mais fácil deixar-nos levar pelo que realmente nos apetece fazer?!
Passo a explicar:
Hoje, um simples pacote de 8 mg desse granulado doce que se cola entre os dedos, dizia-ME:
"Qualquer dia salto para o meio da rua e desato a dançar"
(...)
A vontade faz-nos pensar em agir mas o racional paralisa-nos o impulso.
(e seria tão mais fácil se assim não fosse!)

Como tal, e porque não!?
Façam! faça-se a vontade!
mesmo que se atribua posteriormente a culpa
a um simples
pacote de açúcar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Decisões Provisórias










Nem tudo tem um porquê
mas há sempre uma qualquer razão...

mesmo que injusta.


(A ti, que sabes quem És,
pela Mulher e Mãe extraordinária que serás sempre.)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Literatura

Esperávamos por ela na esplanada,
(em tardes que se faziam noites)
como quem espera aquele amigo mais velho,
tão ingrato,
que um dia deixou de nos falar.

domingo, 4 de outubro de 2009

(Bi)polaridade do Palco

De modo estranhamente similar,
o lugar físico do Teatro está associado a uma série de expectativas que produzem um certo "além",
um certo transpor de realidade, de evasão mesmo,
onde há a criação de dois tempos, dois campos aparentemente separados,

na claridade da cena
e na escuridão da plateia.

sábado, 3 de outubro de 2009













... no meio de tantas palavras... talvez as que tenham ficado, ainda mais do que as restantes...

"...cada um representa o papel
que a si próprio atribuiu,
ou no limite,
que os outros lhe atribuíram..."


(para que pensem. se vos apetecer.)

Seis Personagens à procura de Autor

...e eis que surge uma família com rostos esmaecidos e como que vindos de um sonho.
São as 6 Personagens que procuram Autor e que tentam viver.
Querem ser mergulhados num drama, o drama que é o deles. Não lhes basta serem "replicados" na ilusão do que poderiam ter sido, ou feito.
São reais, mais reais do que qualquer encenador, trapalhão imundo e contador de histórias.
São reais e provam-no...


(Uma peça fantástica, que fala sobre a luta interior constante. Caminha até à angústia do Homem que se perdeu no mundo tremendo do seu SER, do mundo comum que se senta na beira do caminho e se interroga, numa tentativa de se compreender
e de compreender o mundo que o rodeia.

A ver no Teatro S. Luiz, até dia 18 de Outubro)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rastilho sem pólvora

De todas as armas de destruição que o Homem foi capaz de inventar,
a mais terrível - e a mais cobarde -
é a palavra.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

- King -

Deixa passar 8 minutos,
entra já às escuras, segue o foco da lâmpada na escuridão.
Observa se puderes,
o "travelling" a reflectir-se, trémulo, em rostos desconhecidos.
Guarda o bilhete rectangular no bolso das calças e senta-te na primeira fila, a vista a arder.
Depois, respira fundo.

Sabes como funciona:
a verdade (e a mentira)
em 24 imagens por segundo.