terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Espero

Espero
para que não tenham que esperar por mim,
Ouço
para que não tenham que ouvir por mim,
Observo
para que não tenham que descrever os cenários por mim,
Silencio-me
para que ninguém, algum dia, venha a falar por mim.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Geografia

A única geografia que me conhece são as palavras
e como chuva que repousa
entre o ar e a terra
escrevo(-me)
na ausência de todas as palavras.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Chuva Oblíqua

Vejo-te, como se pode ver através da chuva oblíqua
e o que vejo são ausências,
tecidas com fios de névoa no pano cerzido dos dedos
tacteando mapas, retocando imagens, abreviando encontros.
Perguntam-me porque falo de tempos, de palavras
e eu respondo como se pode responder ao que não tem nome, ao que não tem voz.
É também oblíquo e grave a escrita dos "poetas" na inquietação dos livros.
Não há chuva que lhes devolva a paz,
nem mesmo bálsamo que lhes devolva o sono...
e ei-los, fugazes e esquivos,
gotas de um temporal sem tempos
tacteando o silêncio das palavras.
(pois também eles se olham, através desta chuva oblíqua)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Braille

...se tenho as mãos ocupadas
escrevo com os olhos.
e hoje,
hoje tacteio o dia
o granizo em voz consonante
as palavras
os ecos...
como se de um livro de braille se tratasse.