sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Cheiro a juventude

...porque por vezes a infância retorna à lembrança; porque por vezes os dias relembram os tons juvenis... reponho as palavras de Alguém, lidas, e que poderiam descrever a imagem de um qualquer fim de livro, ou de um qualquer retrato de recomeço...

..."E de súbito voltaste. Corres como se voasses - com essa leveza furiosa que só a adolescência conhece. A fita vermelha dança-te sobre o cabelo em desordem. Trazes uma braçada de livros bambos a escorregar-te das mãos e as tuas sapatilhas brancas mal pousam no chão. Há uma névoa de calor pesando sobre as coisas, mas o teu sorriso entra por dentro dela, estilhaça-a, arrasta o azul do céu através das ruas da cidade. Os teus livros desmoronam-se no meio da estrada, ajoelhas-te para os apanhar mas não paras de sorrir.
És tu, sim. O teu sorriso avançando, estático, sobre o meu rosto. És tu antes do tu que te conheci.
Ajoelhada no meio da estrada sacodes tranquilamente cada livro. Algumas páginas desprendem-se e voam. Voas atrás delas sem perderes o fio do sorriso.
Vejo-te lá em baixo, correndo agora através do jardim, a fita vermelha do teu cabelo iluminando o relvado verde. Haverá um cheiro a juventude perdida nesse relvado, há sempre um cheiro que se descobre depois na relva molhada. Mas já não me lembro como era, fica longe, longe, cada vez mais longe."

...porque o Verão tem este dom... o de trazer os cheiros que já nos pertenceram.

Ericeira, Agosto 07

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