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Trago uma cidade em cada mão.
Gosto da claridade do néon impregnando as faces brancas; gosto de um ombro e da maneira como o cabelo toca esse ombro, gosto da precária doçura desse instante.
Conheço a urgência do secreto tempo passado num quarto atravessado pelo vento.
Gosto da cor da mão que tacteia, com cuidadosa curiosidade, os lábios gretados pelo frio e a face prateada que contemplo.
...a outra cidade é diferente... a única que consegue derreter o que trago dentro de mim, a única que sopra sempre o mesmo vento e onde as paredes dos quartos acolhem lençóis brancos com a suavidade da pele.
Lá fora, longe destas duas cidades, as casas e os corpos estão errados... mas cansada das palavras, encerro quase tudo em caixas seladas.
Um dia, a pele onde repousava suavemente o medo de ter medo, converter-se-á numa teia de linhas que contarão a história de uma vida...
...porque existe uma zona onde a lingua é o silêncio.
Aí, não te esqueças do que ias dizer-me!...
porque agora não ouço,
porque agora trago uma cidade em cada mão.
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