sábado, 1 de setembro de 2007
O diálogo das árvores
Recordo o Ontem, para os lados das Azenhas do Mar, onde estava.
Dei por mim a observar um velhote que contava histórias em silêncio - dele para com ele - dizendo que Hoje, ninguém dá atenção ao diálogo das árvores...
Aproximei-me, e num fôlego só, embora pausado, as palavras entraram em mim como se de facto não estivéssemos sós.
- Ouve, ouve as árvores comunicarem entre elas. Como uma outra melopeia indistinta, da qual, no entanto,emerge um sentido. Cada espécie de árvore tem a sua. A dos pinheiros, sempre verdes, com resina e essências voláteis que purificam; a da bétula, com uma ligeireza aérea, com a madeira esticada e a casca dura e branca que teima em não apodrecer; a do freixo, árvore de luz que dizem ser a antepassada de todas; a da tília, sob a qual adormecemos e cujas folhas acalmam, árvore abatida por um antigo génio contemplativo; a do carvalho, velho guerreiro nodoso, planta que demora mais que uma vida humana para criar as primeiras flores...
...e dei por mim, novamente, a observar o seu corpo estático rente à cal, ao moinho cujo vento já não move...
e com o corpo a "flutuar", olhando-o ainda, as suas palavras pareciam ecoar biliões de mundos, de vozes.
Olhei-o uma vez mais, ficou por ali, como se não desse mais pela minha presença.
Levantei-me, não agradeci naquele momento as palavras. Acabei por o fazer, quando de regresso, as árvores do caminho se "esperniavam", sedentas de quem falasse com elas.
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