segunda-feira, 14 de março de 2011

Publicidade


A sujidade do chão durante as refeições;
a Mulher de robe vermelho e óculos escuros a cirandar pela casa como se o sol lhe viesse do tecto;
o tempo a demorar-se nas fotografias da sala;
a porta da rua a gritar a abertura;
alguém que pára a distribuir publicidade nas caixas de correio do prédio em frente;
a Mulher de robe vermelho que se senta impaciente e diariamente à espera de cartas, à espera que alguém toque, que alguém venha, que alguém se importe;
a porta da rua que se abre, o exercitar da voz, a publicidade que se apinha onde nem mais um panfleto cabe na ranhura;
Todos os dias o robe, os óculos, a roupa direita em cima da cadeira como se ela fosse sair do chuveiro de toalha a qualquer instante;
as calças, a camisa, os sapatos;
a solidão dos dedos à noite, à procura de sentido numa almofada de flanela vazia;
todos os dias a felicidade a fazer-se ali, naquele instante em que a campainha toca:
- Publicidade p.f.! Obrigada.

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