Sentada,
num canto do minúsculo espaço onde me encontrava, não pude deixar de ouvir:
"Para seduzir uma Mulher é preciso falar mil horas."
Talvez não tenham ainda percebido de que o que existe não são "horas contadas",
é todo um jogo que por vezes vale a pena jogar - cada um com o seu papel - mas que pelos vistos não está implícito para todos.
terça-feira, 29 de março de 2011
segunda-feira, 28 de março de 2011
Herança
O meu avô vivia da papelaria.
Atravessou a vida praticamente em silêncio e nos poucos intervalos de que dispunha, tal como eu, agarrava na máquina fotográfica e desaparecia. Ninguém sabia onde estaria, nem mesmo depois de verem as fotografias alinhadas no albúm, por datas e locais.
Na altura não sabíamos para que serviam, eram apenas fotografias.
Hoje percebo-o como ninguém.
Quando daqui a uns anos encontrarem no meu baú - sim, tenho um baú - a minha herança, aquela que guardo no conforto suave de um esconderijo, talvez percebam do que falo.
Hoje, ainda não posso falar com aquele silêncio com que nos entendíamos e o que me comove nas fotos que deixaste, é a possibilidade de te/me conhecer.
O quase poder tocar naquele tempo.
Ensinaste-me a VER. Deixaste-me este gosto de herança e o que eu deixo é só para quem quiser ver. Gosto de sentir esta "bagagem", este "recortar" o tempo e ir a sítios que quero ainda levar comigo. A fotografia dá-me igualmente a sensação de esperar do momento o que sabemos que Outros nunca nos darão, o estender o instante sem saber o que virá.
Escrevo isto porque estou a olhar para as tuas fotografias. Em silêncio. Como gostas.
Não sei o que pensas que deixaste.
Sei que trago o teu nome comigo
e só o entrego
a quem provar pertencer-lhe.
sábado, 26 de março de 2011
Que sais-je?
Quando num qualquer lugar não se conhece ninguém,
olha-se à volta. Ou não.
Para falar tem que se começar a falar. E em geral é pelo mesmo.
Há uma urgência em saber o nome e a ocupação da Pessoa que encontramos pela primeira vez - porque se tem pavor do indefinido.
Como se com isso,
se se ficasse a saber alguma coisa...
olha-se à volta. Ou não.
Para falar tem que se começar a falar. E em geral é pelo mesmo.
Há uma urgência em saber o nome e a ocupação da Pessoa que encontramos pela primeira vez - porque se tem pavor do indefinido.
Como se com isso,
se se ficasse a saber alguma coisa...
terça-feira, 22 de março de 2011
domingo, 20 de março de 2011
(Trans)formação
Quando nos deitamos à noite
já não somos exactamente a mesma Pessoa de quando nos levantámos de manhã.
A vida altera-nos constantemente.
Sobretudo quando se apresenta de forma inesperada.
já não somos exactamente a mesma Pessoa de quando nos levantámos de manhã.
A vida altera-nos constantemente.
Sobretudo quando se apresenta de forma inesperada.
sexta-feira, 18 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
Publicidade
A sujidade do chão durante as refeições;
a Mulher de robe vermelho e óculos escuros a cirandar pela casa como se o sol lhe viesse do tecto;
o tempo a demorar-se nas fotografias da sala;
a porta da rua a gritar a abertura;
alguém que pára a distribuir publicidade nas caixas de correio do prédio em frente;
a Mulher de robe vermelho que se senta impaciente e diariamente à espera de cartas, à espera que alguém toque, que alguém venha, que alguém se importe;
a porta da rua que se abre, o exercitar da voz, a publicidade que se apinha onde nem mais um panfleto cabe na ranhura;
Todos os dias o robe, os óculos, a roupa direita em cima da cadeira como se ela fosse sair do chuveiro de toalha a qualquer instante;
as calças, a camisa, os sapatos;
a solidão dos dedos à noite, à procura de sentido numa almofada de flanela vazia;
todos os dias a felicidade a fazer-se ali, naquele instante em que a campainha toca:
- Publicidade p.f.! Obrigada.
domingo, 13 de março de 2011
...
Deitas-te sem mais palavras
porque as palavras ocupam espaço,
demasiado espaço no silêncio dos gestos que se querem ditos,
em voz baixa
como que segredados ao ouvido da pele.
porque as palavras ocupam espaço,
demasiado espaço no silêncio dos gestos que se querem ditos,
em voz baixa
como que segredados ao ouvido da pele.
quarta-feira, 9 de março de 2011
(Re)Começar todos os Dias
"Recomeçar, recomeçamos todos os dias quando acordamos e nos levantamos".
Parece quase sem significado de tão óbvia,
mas esta equação acompanha-me desde há uns anos.
Talvez porque me lembra que todos os dias agradeço ao acordar,
talvez porque encerra uma disposição positiva que aprendi a ter na vida,
talvez porque minimiza as "grandes" questões que vão demorar tempo a resolver e me lembra,
de que todos os dias são dias
para se Viver.
Parece quase sem significado de tão óbvia,
mas esta equação acompanha-me desde há uns anos.
Talvez porque me lembra que todos os dias agradeço ao acordar,
talvez porque encerra uma disposição positiva que aprendi a ter na vida,
talvez porque minimiza as "grandes" questões que vão demorar tempo a resolver e me lembra,
de que todos os dias são dias
para se Viver.
quarta-feira, 2 de março de 2011
Coacção do Tempo
Acendo a luz e encaro o espelho.
Passo as mãos em torno dos olhos, puxo as têmporas para cima, desfaço as marcas da testa, alisando-a.
O tempo passa e confesso que não vi.
- Quem és tu?
Porque não envelhecemos de maneira uniforme, as linhas acentuam-se gradualmente, as mãos ficam progressivamente mais seda, os olhos passam do brilho ao opaco.
De repente acordamos e o rosto que tínhamos é agora substituído por um outro, que recebemos coagidos e que se diz contador de histórias.
E sem querer, espelha-se a pergunta pendurada na imagem:
- Quem és tu?
e aquilo que fui, em (quase) nada se parece com aquilo que Sou.
Passo as mãos em torno dos olhos, puxo as têmporas para cima, desfaço as marcas da testa, alisando-a.
O tempo passa e confesso que não vi.
- Quem és tu?
Porque não envelhecemos de maneira uniforme, as linhas acentuam-se gradualmente, as mãos ficam progressivamente mais seda, os olhos passam do brilho ao opaco.
De repente acordamos e o rosto que tínhamos é agora substituído por um outro, que recebemos coagidos e que se diz contador de histórias.
E sem querer, espelha-se a pergunta pendurada na imagem:
- Quem és tu?
e aquilo que fui, em (quase) nada se parece com aquilo que Sou.
terça-feira, 1 de março de 2011
Transformação Pessoal
Na imaginação já perto da "invalidez",
reinventa-se uma vida na qual nascemos cheios de vícios, necessidades descabidas, ausências, medos, obsessões...
e aos poucos,
evoluímos,
perdendo toda a corrupção até atingir novamente a inocência.
E a criança que fomos, a que fui,
transforma-se como seria óbvio, em experiência,
e as experiências enriquecem
embrutecendo.
reinventa-se uma vida na qual nascemos cheios de vícios, necessidades descabidas, ausências, medos, obsessões...
e aos poucos,
evoluímos,
perdendo toda a corrupção até atingir novamente a inocência.
E a criança que fomos, a que fui,
transforma-se como seria óbvio, em experiência,
e as experiências enriquecem
embrutecendo.
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