domingo, 31 de outubro de 2010

Retina

Bastou virar-se para trás
e demorar 3 segundos
com os olhos dentro dos meus.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Reflexo

A aridez da noite
reflecte-se
em cada vinco meu.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Naked thoughts









O corpo a contar-me uma história difícil de sair do ouvido
e eu
ainda
a ouvi-la cá dentro.

domingo, 24 de outubro de 2010

A noite - uma chávena meio cheia

O cansaço dói-me nos olhos quando os abro para me ver.
Tomou-me de ponta,
testando-me num limite de exaustão que contrario.
Espalha-se até ao contorno dos dedos,
tal como as reproduções que tenho em qualquer uma das partes do corpo
e que cumprimento ao espelho pela manhã.
O cansaço por vezes cega-me
mas ainda sinto quando as mãos fazem falta ao meu corpo,
quando tudo à minha volta se transforma num enorme circuito
de chávenas vazias
em noites por encher.

sábado, 23 de outubro de 2010

Keep on walking

A Vida é em frente.
Transitar, perguntar,
não parar de questionar...
porque não vale a pena escrever o futuro
a pensar no passado.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Subversão

Os lábios tão comprometidos com a noite,
sulcam lembranças e despertares
e seguem o rumo das palavras
como quem troca abraços
para subverter emoções.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Still awake













...as Pessoas movem-se inebriadas...
provavelmente nem sabem porque razão se movem.
Já os sítios onde costumam dormir,
esses,
encontram-se quietos
no silêncio dos lençóis por amarrotar.

Noite inquieta

A tua mão distraída passeia pelo corpo...
um corpo cheio de um estranho cansaço
juvenil e impaciente,
que segreda para quem o ouve:

"estou exausta e quero mais".

domingo, 17 de outubro de 2010

Linguagem não verbal

Por vezes, o que fazemos é NADA,
excepto o deixar correr a mentira dos Outros.
Se ainda puderes recordar, deixa pousar o medo,
repete a simplicidade de cada dia
repete as palavras não ditas,
essa ternura no sorrir...

porque como te deves lembrar,
nenhum Abraço pode ser condenado.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ausência

Por fim,
as mãos agarram o corpo
mas o corpo já não está.

domingo, 10 de outubro de 2010

Cidade Molhada

Choveu e chove de novo.
Desprende-se do céu e rebenta no chão,
escorre nos telhados, nas vidraças das janelas, nas persianas que se fecham para a noite entrar.
Junta-se em fios alinhados para desaguar num qualquer recanto sem cheiro a maresia.
As nuvens agitam-se e adensam-se num corrupio fictício,
também elas com o sopro do vento como destinatário.

Choveu e chove de novo.
Hoje,
a cidade com cheiro a terra molhada.
Amanhã,
amanhã será outro dia.

Espero não chover amanhã.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sombras solúveis









Às vezes gostava de saltar para a rua nestes dias de chuva e trovoada.
Ser relâmpago por um momento:
ecoar, trovejar, deixar um grito como memória.
Subir aos telhados mais altos da cidade e apanhar raios de luz.
Prendê-los a uma imagem,
usurpando a natureza dinâmica de antecipar o brilho da manhã por um segundo.
Emendar os rasgões dos lençóis de água, congelar memórias e flutuar pelos momentos.

E no fim do dia cair na cama,
como uma gota de chuva quando cai numa folha
numa manhã de trovoada.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Maquete dos Afectos

Cada noite é um chão
onde pousa o esboço de um desenho na própria página que o desfaz,
só para poder recomeçar.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Defesa contextual

A dureza das palavras nem sempre é frieza caracterial,
nem sempre é física ou relacional,
mecânica ou emocional...
é por vezes pura defesa contextual
onde a vivência dita "normal"
cria metástases absurdas,
a que muitos chamam de paranormal.

domingo, 3 de outubro de 2010

"A minha casa é onde estás"










A porta de casa permite a entrada mas não a estadia
e a vertigem disso mesmo
dá a "Alguéns",
a noção aflitiva da porta fechada - como a ideia de uma chave
que não se encontra na mala.