...há dias assim,
em que as palavras rasgam por não sair,
por não se saber o que dizer.
Há quem diga que é dor
há quem diga que é raiva, revolta, zanga...
isto que se sente.
Digo que é tudo isso e nada disso
digo apenas que estou cansada,
deveras,
de "suportar" algo que nada é,
de me despedir
obrigatoriamente
dos que efectivamente fazem sentido nos dias.
Hoje Ana,
este beijo de sempre é para ti.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Pedido anónimo
Entras no café
e sentas-te na mesa que ainda não foi limpa,
como se não tivesses escolha.
Afastas de ti o pedido anterior,
a chávena ainda morna,
o copo bebido até à última gota
e deslizas os dedos pelos cabelos
em busca de um olhar que não o teu.
As mãos hesitam sobre as pernas,
como se ainda não decidido o que fazer.
Pedir ou sair?
Sem saber porquê guardo a tua imagem
e ando com ela nesta página
que sabe o teu nome de cor
sem nunca o dizer,
como se lhe tivesses pedido segredo.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Vírgulas na paisagem (1) - Largo do Caldas
...o largo com a barbearia de uma só cadeira, com os marceneiros de meia cancela que nunca se vêem, só se ouvem,
e com o casarão das janelas trancadas, onde à noite se adivinha uma ténue luz a cambalear lá dentro.
Numa manhã de sol envergonhado, como esta, o casarão tem fatalmente um friso de pombas emproadas ao correr do telhado.
Do outro lado, Rua da Madalena a descer.
Avistam-se as cadeiras ortopédicas expostas à porta das lojas, prontas a rolar a qualquer momento pelo plano inclinado, ganharem velocidade e desaparecerem como máquinas loucas, sobrevoando os telhados da cidade.
Ao pôr-do-sol recolhem-se domesticadamente porque são de todas as horas,
a imagem, no caminho de quem passa.
e com o casarão das janelas trancadas, onde à noite se adivinha uma ténue luz a cambalear lá dentro.
Numa manhã de sol envergonhado, como esta, o casarão tem fatalmente um friso de pombas emproadas ao correr do telhado.
Do outro lado, Rua da Madalena a descer.
Avistam-se as cadeiras ortopédicas expostas à porta das lojas, prontas a rolar a qualquer momento pelo plano inclinado, ganharem velocidade e desaparecerem como máquinas loucas, sobrevoando os telhados da cidade.
Ao pôr-do-sol recolhem-se domesticadamente porque são de todas as horas,
a imagem, no caminho de quem passa.
domingo, 25 de janeiro de 2009
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
7h45
Deito-me no meu corpo.
Volto ao ritual de todas as manhãs,
o pequeno-almoço, o café, o duche de gestos lentos.
Visto-me sem pressas,
à distância incerta do espelho (que raramente olho).
Abro ao acaso a página de um livro e escolho uma palavra,
a que vai reger o meu dia,
enquanto penso se o improvável será isto,
nesta manhã que visto devagar.
domingo, 18 de janeiro de 2009
De facto...
...ninguém "olha" para um rosto sem corpo;
ninguém guarda memória do que fizemos, demos, gostámos...
ninguém repara para um olhar que apenas os olhou.
Há dias,
cujas Pessoas nos desiludem
ainda mais.
ninguém guarda memória do que fizemos, demos, gostámos...
ninguém repara para um olhar que apenas os olhou.
Há dias,
cujas Pessoas nos desiludem
ainda mais.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Agasalho da noite
De regresso a casa...
deixo-me ficar quieta e relembro gestos, palavras,
sem saber se estou a dormir ou acordada.
Ouço as vozes lá de fora
os sussurros lentos do andar de cima
e olho a noite dos que passam.
Levam sacos, artefactos,
levam o cansaço de um dia,
levam ruídos a mais.
E eu aqui, quieta
no agasalho da presença ausente
onde entro no esquecimento de tudo isto
e redobro a pausa
o silêncio do instante.
deixo-me ficar quieta e relembro gestos, palavras,
sem saber se estou a dormir ou acordada.
Ouço as vozes lá de fora
os sussurros lentos do andar de cima
e olho a noite dos que passam.
Levam sacos, artefactos,
levam o cansaço de um dia,
levam ruídos a mais.
E eu aqui, quieta
no agasalho da presença ausente
onde entro no esquecimento de tudo isto
e redobro a pausa
o silêncio do instante.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Contra-transferência
As Pessoas procuram-me e surgem densas...
cheias de tudo e de todos
cheias de dias pesados
minutos cronometrados
memórias intactas presas a um instante
que já não tem retorno.
e eu...
as palavras impotentes
as palavras distantes de quem as ouve em silêncio.
e eu...
pudesse eu apagar-lhes
as memórias que já não fazem falta.
cheias de tudo e de todos
cheias de dias pesados
minutos cronometrados
memórias intactas presas a um instante
que já não tem retorno.
e eu...
as palavras impotentes
as palavras distantes de quem as ouve em silêncio.
e eu...
pudesse eu apagar-lhes
as memórias que já não fazem falta.
domingo, 11 de janeiro de 2009
sábado, 10 de janeiro de 2009
Em memória...
Há dias mudos
há dias de partilha
há dias de memórias...
...e é em memória ao Pai
de uma das Pessoas mais importantes da minha Vida,
falecido ontem,
que hoje,
esta página está de luto.
há dias de partilha
há dias de memórias...
...e é em memória ao Pai
de uma das Pessoas mais importantes da minha Vida,
falecido ontem,
que hoje,
esta página está de luto.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
domingo, 4 de janeiro de 2009
Dias de papel
Antes tudo fosse feito de papel,
cores desenhadas em tons pastel
como água que escorre e molha o chão;
antes fosse tudo feito de papel,
pautado ou liso
com margens disponíveis para ser arrancado
amarrotado, rasgado e colado;
antes tudo fosse feito em papel,
mais suave que cartão,
flexível
com a forma dos dias
e com a cor que o tempo lhe dá;
antes fosse tudo feito em papel,
para recortarmos os caminhos vazios
cheios de nada
para preenchermos a cheio as linhas certas,
para desenharmos
sem esboço
o que queremos.
cores desenhadas em tons pastel
como água que escorre e molha o chão;
antes fosse tudo feito de papel,
pautado ou liso
com margens disponíveis para ser arrancado
amarrotado, rasgado e colado;
antes tudo fosse feito em papel,
mais suave que cartão,
flexível
com a forma dos dias
e com a cor que o tempo lhe dá;
antes fosse tudo feito em papel,
para recortarmos os caminhos vazios
cheios de nada
para preenchermos a cheio as linhas certas,
para desenharmos
sem esboço
o que queremos.
sábado, 3 de janeiro de 2009
Hiato da escrita
Todos os dias abro esta página
e todos os dias a fecho.
O impulso de escrever é contrariado pela substância das palavras,
que não acontece.
Não tenho como teimar esta inércia das mesmas.
Talvez seja mesmo isto a escrita,
o hiato,
entre o pensar e o agir.
e todos os dias a fecho.
O impulso de escrever é contrariado pela substância das palavras,
que não acontece.
Não tenho como teimar esta inércia das mesmas.
Talvez seja mesmo isto a escrita,
o hiato,
entre o pensar e o agir.
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