No Casal Ventoso pintei um muro de cores garridas em fundo branco...
nesse dia não houve seringas partilhadas pelos corpos, houve mais palavras e vidas a tocarem-se.
No Bairro de Chelas, tive o privilégio de ver o Pedro no gang de hip-hop...
nesse dia à noite, a gritaria e a miséria vividas em casa, não o puseram a chorar.
No Jardim da Parada conversei com uma velhota...
que cheia de sacos de memórias apanhava raios de sol. Vi-lhe as fotografias, ouvi a história dos filhos e netos, deixei-a destapar o tempo, com o respeito de quem ouve, ao ponto de se esquecer que a tivessem tratado assim. Trabalhou a vida toda a pensar no que deixaria aos seus... Hoje, deambula nas ruas com os sacos das memórias. Os filhos têm casas pequenas, mais pequenas ainda que os afectos...para ela ninguém tem tempo, niguém sabe por onde anda.
Na Zona J destapei o medo da Ana...
cobri os afectos com mosaicos e paredes sólidas, pintei quadros de cores mil e nos olhares atentos de quem me via passar, montei divisórias para simular quartos "quentes"... na palma das mãos dos miúdos desenhei borboletas com intenção de voar, aprendi jogos e passatempos dos garotos de rua,
entrei cheia de Tudo e saí com a sensação de não ter mais para dar...
O meu tempo dou-o todo,
mas não chega para todos...
(Hoje apeteceu-me repor este texto, porque de facto, o meu tempo dou-o, mas só chega, a muito poucos.)
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
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1 comentário:
Curioso ler este o teu texto abaixo. Hoje escrevi um texto no meu blog que fala também ele dos espelhos, dos nosso espelhos. Deixei escorrer aqui o comentário do Olá básico, aquele que infelizmente ainda não demos decentemente em Lisboa.
A vida é assim, transposta em momentos que não acabam, em pessoas que não se cruzam, pessoas que longe estão perto e que perto estão longe como que separadas por abismos,
No cair da noite em que escrevo, deixo-te aqui um beijo e um até já.
Beijo, Hugo
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