terça-feira, 30 de outubro de 2007
Semântica
Tão fácil deitarmo-nos nas palavras
com as palavras
sobre elas,
na esperança de que abafem as ideias que trazem
que levam
que amachucam
que reclamam...
e que quando conjugadas façam semântica,
tal como estas.
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Não tenho tempo...
No Casal Ventoso pintei um muro de cores garridas em fundo branco...
nesse dia não houve seringas partilhadas pelos corpos, houve mais palavras e vidas a tocarem-se.
No Bairro de Chelas, tive o privilégio de ver o Pedro no gang de hip-hop...
nesse dia à noite, a gritaria e a miséria vividas em casa, não o puseram a chorar.
No Jardim da Parada conversei com uma velhota...
que cheia de sacos de memórias apanhava raios de sol. Vi-lhe as fotografias, ouvi a história dos filhos e netos, deixei-a destapar o tempo, com o respeito de quem ouve, ao ponto de se esquecer que a tivessem tratado assim. Trabalhou a vida toda a pensar no que deixaria aos seus... Hoje, deambula nas ruas com os sacos das memórias. Os filhos têm casas pequenas, mais pequenas ainda que os afectos...para ela ninguém tem tempo, niguém sabe por onde anda.
Na Zona J destapei o medo da Ana...
cobri os afectos com mosaicos e paredes sólidas, pintei quadros de cores mil e nos olhares atentos de quem me via passar, montei divisórias para simular quartos "quentes"... na palma das mãos dos miúdos desenhei borboletas com intenção de voar, aprendi jogos e passatempos dos garotos de rua,
entrei cheia de Tudo e saí com a sensação de não ter mais para dar...
O meu tempo dou-o todo,
mas não chega para todos...
(Hoje apeteceu-me repor este texto, porque de facto, o meu tempo dou-o, mas só chega, a muito poucos.)
nesse dia não houve seringas partilhadas pelos corpos, houve mais palavras e vidas a tocarem-se.
No Bairro de Chelas, tive o privilégio de ver o Pedro no gang de hip-hop...
nesse dia à noite, a gritaria e a miséria vividas em casa, não o puseram a chorar.
No Jardim da Parada conversei com uma velhota...
que cheia de sacos de memórias apanhava raios de sol. Vi-lhe as fotografias, ouvi a história dos filhos e netos, deixei-a destapar o tempo, com o respeito de quem ouve, ao ponto de se esquecer que a tivessem tratado assim. Trabalhou a vida toda a pensar no que deixaria aos seus... Hoje, deambula nas ruas com os sacos das memórias. Os filhos têm casas pequenas, mais pequenas ainda que os afectos...para ela ninguém tem tempo, niguém sabe por onde anda.
Na Zona J destapei o medo da Ana...
cobri os afectos com mosaicos e paredes sólidas, pintei quadros de cores mil e nos olhares atentos de quem me via passar, montei divisórias para simular quartos "quentes"... na palma das mãos dos miúdos desenhei borboletas com intenção de voar, aprendi jogos e passatempos dos garotos de rua,
entrei cheia de Tudo e saí com a sensação de não ter mais para dar...
O meu tempo dou-o todo,
mas não chega para todos...
(Hoje apeteceu-me repor este texto, porque de facto, o meu tempo dou-o, mas só chega, a muito poucos.)
domingo, 21 de outubro de 2007
Espelho meu...
sábado, 20 de outubro de 2007
Ritual
Bebes sempre a mesma bica, sempre à mesma hora, sempre no mesmo café.
Enquanto muitos se apressam tu chegas e aproximas-te do balcão, com esse teu passo certo e fazes o pedido. Quando te põem a chávena fumegante em cima do balcão, inclinas ligeiramente a cabeça para a frente, esboças um "obrigado", pegas no teu desejo e diriges-te para uma mesa, sempre a mesma mesa. Depois de sentado pegas suavemente na chávena, o tempo suficiente para que o café arrefeça de modo a que possas bebê-lo sem que te queime os lábios. Após este breve momento de espera, ergues então a chávena até aos lábios e neste movimento, antes de dares o primeiro golo, ergues também o olhar por cima do vapor quente, dando a volta à sala que se apresenta aos teus olhos. Olhas toda a cena como se não fosses um habitué desse lugar. Mas apesar de ser um olhar atento, poderia dizer-se que estás longe dali, que os teus pensamentos estão muito para além daquela sala, daquelas pessoas, daquele café.
Por vezes penso, se alguém me perguntasse se te conheço poderia dizer que sim? sem nunca termos trocado uma palavra sequer?... Afinal, observo todos os teus movimentos e sei de cor o teu ritual do café... o empregado não sabe o modo como olhas para as coisas e pessoas e nem imagina a maneira como fazes (ou és) o tempo.
Haverá realmente alguém que saiba tudo acerca daqueles que dizem ser seus "conhecidos"?
Não sei... Não será mais fiel o gesto de alguém do que as palavras que esse alguém nos diz?
Mais uma vez não sei... mas prefiro os gestos, prefiro os gestos às palavras que me forçam a falar a língua que o outro fala e não aquela que pretendo falar,
a língua das coisas poucas,
a língua das coisas pequenas,
a língua das coisas simples.
Enquanto muitos se apressam tu chegas e aproximas-te do balcão, com esse teu passo certo e fazes o pedido. Quando te põem a chávena fumegante em cima do balcão, inclinas ligeiramente a cabeça para a frente, esboças um "obrigado", pegas no teu desejo e diriges-te para uma mesa, sempre a mesma mesa. Depois de sentado pegas suavemente na chávena, o tempo suficiente para que o café arrefeça de modo a que possas bebê-lo sem que te queime os lábios. Após este breve momento de espera, ergues então a chávena até aos lábios e neste movimento, antes de dares o primeiro golo, ergues também o olhar por cima do vapor quente, dando a volta à sala que se apresenta aos teus olhos. Olhas toda a cena como se não fosses um habitué desse lugar. Mas apesar de ser um olhar atento, poderia dizer-se que estás longe dali, que os teus pensamentos estão muito para além daquela sala, daquelas pessoas, daquele café.
Por vezes penso, se alguém me perguntasse se te conheço poderia dizer que sim? sem nunca termos trocado uma palavra sequer?... Afinal, observo todos os teus movimentos e sei de cor o teu ritual do café... o empregado não sabe o modo como olhas para as coisas e pessoas e nem imagina a maneira como fazes (ou és) o tempo.
Haverá realmente alguém que saiba tudo acerca daqueles que dizem ser seus "conhecidos"?
Não sei... Não será mais fiel o gesto de alguém do que as palavras que esse alguém nos diz?
Mais uma vez não sei... mas prefiro os gestos, prefiro os gestos às palavras que me forçam a falar a língua que o outro fala e não aquela que pretendo falar,
a língua das coisas poucas,
a língua das coisas pequenas,
a língua das coisas simples.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Em silêncio, a escrita
Quando uma leitura nos devolve algo,
assalta-nos um inusitado momento que vem com o tacto,
um momento que nos devolve a memória da escrita,
o toque das palavras,
o sabor do silêncio enquanto se escreve,
a consciência de que somos Alguém.
assalta-nos um inusitado momento que vem com o tacto,
um momento que nos devolve a memória da escrita,
o toque das palavras,
o sabor do silêncio enquanto se escreve,
a consciência de que somos Alguém.
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Silêncio
Cá de cima tudo parece intransponível...
cá em cima avista-se ao longe o que sempre esteve ao perto
e há uma zona
onde a linguagem é o silêncio,
onde apenas nos é permitido olhar, pensar e reter
uma zona onde o silêncio só pode ser pocurado
dentro de nós.
cá em cima avista-se ao longe o que sempre esteve ao perto
e há uma zona
onde a linguagem é o silêncio,
onde apenas nos é permitido olhar, pensar e reter
uma zona onde o silêncio só pode ser pocurado
dentro de nós.
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
sábado, 6 de outubro de 2007
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