terça-feira, 27 de novembro de 2012

Per-calço do dia

Ontem, carro parado no semáforo de luz vermelha, vi-te.
Olhei-te por mais tempo do que deveria.
Parecias ter 8 ou 9 anos, não mais.
As tuas expressões de miúda denunciavam-te o rosto mas não a força que parecia sair-te por todo o lado.
As tuas pernas bambeavam pela rua direita de caminho ao metro de um dos pontos da cidade e tu,
tu parecias exercer um esforço mental tremendo para que os outros não se apercebessem da tua "questão física", ainda assim, a pressa traía-te o passar despercebida - pelo menos aos meus olhos.
Da cintura para baixo havia uma fragilidade que contrastava com o movimento amplo, frio, certeiro...tipo lance de espada que fazias com a mão, como se se tratasse de uma estratégia de auto-controlo que te dizia: calma...calma... quanto mais depressa mais coxeias, mais as pernas arqueiam e impedem o movimento...calma...tu consegues...".
Não sei o teu nome nem tão pouco quem eras... mas naquele momento,
a minha vontade foi pegar-te ao colo e fazer-te andar mais depressa,
como se de repente nada se passasse e tivesses ganho asas.
Talvez gostasses da sensação. Ou não.
Não sei quem eras nem tão pouco para onde ias com tanta pressa.
E parei de olhar. Baixei o rosto.
Tive receio de te atrasar. 

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