quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Fragmentos

O gesto... o simples gesto de nada fazer
o nome... o simples nome que nada descreve
a palavras... a simples palavra que nunca se diz
o gosto... o gosto dos Outros que em nada desgosto
a voz... a simples voz que me cala no eco
o olhar... o simples olhar que troco sem devolução
o corpo... o simples corpo que em nada me pertence
o silêncio...
... o único capaz de definir o que não digo.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Quarto interior













Choveu durante todo o dia.
À noite chove dentro do meu quarto,
o meu quarto interior... ainda para mais,
como adormecer tendo o sono leve? - digo para mim mesma,
mordendo o lábio inferior, abanando a cabeça, sentindo a pressão.
Está frio. Está uma ausência cinza neste espaço.
Volto-me de lado - posição que escolho para adormecer,
enterro-me na almofada ensopada e tento fechar os olhos.
As nuvens roçam nas paredes, cheias de água;
um rio corre pelo chão do corredor,
peixes díspares debaixo da cama... e não consigo adormecer.
Cerro os lábios, uma vez mais sentindo a pressão,
sustenho a respiração...
e um feixe de algas ganha raízes no meu cabelo.

sábado, 27 de dezembro de 2008

A linguagem da pele

... as texturas,
a pele preenchida,
a cicatriz no joelho daquela vez que caiu;
as histórias por contar
os sonhos que não vou vender,
as mãos...
as mãos são mais que um contorno.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Simplesmente, insone

A noite dilatada no meu pulso
suspensa na minha anca
dispersa na minha insónia...

domingo, 21 de dezembro de 2008

Horas perfeitas

As palavras guardadas
furadas com um cadeado que se fecha do lado de dentro;
as horas apertadas
perfeitas
escondem o que fica por fazer;
já os olhos fechados
esses,
são como um livro encapado,
receosos de folhear o que há dentro desse espaço.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Dói-me

Dói-me esta água,
este ar que se respira,
estas mãos nocturnas onde aperto os meus dias
quebrados na cintura.

(dói-me, que saibas igualmente, de cor
o que é a dor).

domingo, 14 de dezembro de 2008

Manhã inebriada

As Pessoas movem-se inebriadas...
provavelmente,
nem sabem porque razão se mantêm acordadas.
já os sítios onde costumam dormir,
esses,
encontram-se quietos
no silêncio dos lençóis por amarrotar.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Reticências...

(Após sessão e partilha com L., eis que surgem as palavras deste Alguém que, tal como eu, aprecia particularmente reticências...)


"...as reticências... são tudo...
podem ser uma pausa
ou um momento que te dou para pensares...
podem significar algo mais que ficou por dizer...
podem ser um silêncio...
e o silêncio diz tudo...
As reticências têm um lugar e um momento
mas significados mil...
são um momento contigo mesma...
As reticências são aquilo que interpretares...
são um pedaço de mim que passa a ser teu...
...
são um espaço, são algo mais, um pouco mais além...
são parte de mim, são um todo do mundo...
As reticências...
...as reticências são mágicas..."

...e porque Gosto
de reticências,
deixo-as...
para quem as queira vestir...
ou simplesmente, adivinhar...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Lacuna

...a distância,
um segredo que vem ter connosco
e que ali ocupa,
o espaço que não é de ninguém.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O que fica?

O que fica de quem passa?
um eco ao ouvido da tarde?
uma pausa de palavras na frase do instante?
uma interrupção de passos?
um esquecimento?
... quem passa não pensa no que fica,
se os passos o levam
para onde espera ficar.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Intermediário

Ela é...

o transporte para os seus encontros,
a avenida para os seus afectos.